Dão-nos vida, uma vida que nem sempre queremos mas à qual nos habituamos. Crescemos moldados por uma família e por uma sociedade com a qual nem sempre concordamos. E, quando nos apercebemos da nossa verdadeira identidade, quando tentamos “brotar” com aquilo que pensamos e com o que sonhamos para a nossa vida, somos confrontados com barreiras difíceis de transpor.
Existimos? Talvez! Mas numa existência impulsionada pela nossa vontade e condicionada pela vontade dos outros.
Afinal quem somos? E quem são os outros? Nunca vamos encontrar a resposta para estas questões.
Não valemos por aquilo que construímos mas por aquilo que os outros pensam de nós. Vivemos numa sociedade estereotipada em que a aparência exterior conta mais que o nosso verdadeiro interior.
Começo aqui algumas divagações exemplificativas em que me apetece falar de algumas realidades vividas por mim e, quem sabe, talvez por muitas outras adolescentes:
As suas primeiras desilusões foram as nódoas negras, no corpo e na alma, que lhe infligiram quando fez uma asneira. Aprendeu, à sua custa, que os pequenos erros doíam muito. Mas continuou a acreditar que a vida era bela e promissora.
Mas um dia essa criança apercebeu-se de que tinha que deixar o seu pequeno mundo e entrar no mundo dos adultos. E já não sorria para todos, sorria apenas para aqueles que lhe inspiravam confiança. Mas cresceu, com uma simplicidade que lhe era inata e venceu, passo a passo, alguns obstáculos gigantescos ao seu tamanho. Limpava as lágrimas com pequenas alegrias e alegrava-se com pequenos nadas.
O seu sorriso ingénuo de criança transformou-se em risos trocistas e sarcásticos. Não sabia se se ria do mundo ou de si própria. Aprendeu a transformar os seus problemas em risos ridículos que irritavam os outros. Mas os outros nunca se apercebiam o quanto a irritavam a ela. Também não lhes dizia, não que não gostasse de o fazer mas porque sabia que sofreria represálias.
Chegou a altura em que a sua ingenuidade se desvaneceu e decidiu que não iria esconder mais aquilo que pensava. E a sua felicidade começou a diminuir proporcionalmente ao seu confronto social.
Disseram-lhe então que já não era uma criança. Mataram-na para a ressuscitarem numa adolescente irreverente. E essa adolescente aprendeu a viver à sua maneira e a seu belo prazer. Dava-lhe gozo provocar os adultos que até aí a tinham iludido com palavras de falso carinho e de precário amor.
Cultivou uma adolescência que a aproximava das outras adolescentes da sua idade. Fomentou amizades em que dava tudo de si e recebia o mesmo dos outros. Apercebeu-se que o mundo poderia continuar a ser belo e foi feliz. Tão feliz que ainda hoje recorda essa felicidade.